Ato I, cena I. Praça de Verona.
(...)
Benvólio: Feliz manhã, primo!
Romeu: Ainda é tão cedo?
Benvólio: Acabam de soar as nove horas.
Romeu: Meu Deus, como demoram a passar as horas tristes. Era meu pai a pessoa que se afastou daqui tão depressa?
Benvólio: Era. Mas qual é a tristeza que torna tão longas as tuas horas?
Romeu: A de não ter aquilo que poderia torná-las breves.
Benvólio: Apaixonado?
Romeu: Não...
Benvólio: Por que será que o amor, tão gentil de se ver, tona-se um duro tirano na hora de experimentá-lo?
Romeu: Sim, este amor sempre vendado sabe como encontrar seus próprios caminhos. Onde almoçamos? Mas o que houve aqui? Ai de mim, não mo digas, pois pude ouvir a algazarra. Aqui o ódio é culpado, mas ainda mais culpado é o amor. Amor briguento! Amoroso ódio! Sempre nascido do nada! Oh, pesada leveza! Fútil carga! Caótico engano de formas sedutoras! Pluma de chumbo, faiscante fumaça, fogo gelado, saúde doentia, sonos inquietos, nunca é o que parece ser. Mas o amor que sinto não vê amor algum nesta contenda, Não estás a rir?
Benvólio: Não, primo, antes a chorar.
Romeu: Por que, querido amigo?
Benvólio: Por ver tão oprimido o teu coração.
Romeu: Mas assim trairias a tua própria afeição. Já são muitos os pesares que oprimem meu peito, se lhes juntares os teus far-me-ás sucumbir. A benevolência que sentes por mim aumenta mais ainda a minha dor. O amor é fumo que surge da névoa dos surpiros. purificado, é fogo a rebrilhar nos olhos dos amantes; contrastado, torna-se um mar de lágrimas. O que mais pode ser? Discreta loucura, sufocante amargura e, finalmente, salvadora doçura. Adeus, primo.
(...)
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