terça-feira, 26 de julho de 2011

Água Viva.

- Você é infeliz e sabe disso, mas mente! Mente para os outros e para você mesma. Você não tem uma alma, é um vazio completo. Procura felicidade onde não existe, inventa-a.

Nesse momento o chão começava a desabar. Minha força sumia. Minha coragem desaparecia.

- Isso não é verdade.

Eu gritei com minha voz abafada.

- Você pode mentir para todos, menos para mim. Eu consigo ver o seu interior: oco. Você procura respostas, mas frustra-se sabendo que elas não virão. Sua vida não faz sentido. Você não faz sentido!

O barulho da tempestade junto com os raios e trovões não era mais percebido a meus ouvidos. Só conseguia sentir a mão de meu irmão gêmeo segurando firme o meu braço.

- Não dê ouvidos a ele Penny.

- Eu estou mentindo mesmo, minha filha? Você é um nada, tal como sua falecida mãe.

Ele esboçou um sorriso malicioso e fitou meus olhos por alguns instantes. Peguei então a arma e disparei contra a cabeça daquele maldito, que explodiu na nossa frente. Brian me abraçou com força, seus braços eram grandes e envolviam todo o meu tronco. Eu estava estática.

- Penny, Penny... Você está bem?

- Estou.

Eu não estava bem. Nosso pai tinha razão, eu era infeliz e não tinha uma alma. A única razão para eu continuar a viver era Brian. Eu jamais me imaginaria longe dele, minha vida, meu sangue.

- Dê-me essa arma e vamos embora daqui.

Entreguei-a, Brian deu alguns passos, mas eu segurei seu braço impedindo-o de caminhar mais. Eu estava desesperada. O que nós fizemos? O que nós iremos fazer?

- Brian... Você sabe que nós vamos arder no Inferno.

- Se o Inferno existe, nós já estamos nele, meu amor.

Depositou-me um beijo quente nos lábios. Ficamos ali parados por longos minutos próximos a um corpo estendido e muito sangue. Recostei no peito de Brian e uma lágrima caiu, o esmurrei com pouca força.

-Ei, o que houve?

- O que vai acontecer quando nossos corações não baterem mais? Não há paz aqui, Brian... Você sabe o que esse monstro fez com a gente, nós não temos mais nada, só um ao outro. Eu tenho tanto medo. Medo de ficar sem você, de acontecer alguma coisa conosco. Eu não consigo, eu não posso viver sem você. Não é fraternal... É tão difícil. Agora precisamos fugir, nos esconder.

Meus olhos buscaram os dele desesperadamente, ele estava sério, com os lábios comprimidos. Eu sei que ele tinha os mesmos medos, as mesmas dúvidas e preocupações que eu, mas era mais forte, sempre foi mais forte que eu.

-Eu te amo. Com o resto nós nos viramos.